quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Caldo de Cultura


The juggler - Michael Parkes
The juggler - Michael Parkes


Você já deve ter ouvido falar desse termo Caldo de Cultura, mas já parou para pensar no que ele significa e de onde veio essa expressão?
Na biologia esse termo trata de um ‘meio nutritivo’ – uma cultura - em que são inseridos células, tecidos ou até mesmo micro-organismos além de outros elementos com o objetivo de nutrir e estimular o desenvolvimento e crescimento. Trata-se de um espaço que funciona como um meio em que convivem diversos elementos que trabalham em sinestesia, em integração e harmonia: um equilíbrio que propicia uma visão do todo em que participam todos esses elementos. Veja o exemplo de um malabarista.
Bolas, arcos ou claves elevam-se no ar e passam a ser sustentados em um movimento preciso e sincronizado sob o olhar do malabarista, um olhar que precisa envolver o todo, um olhar que não pode mirar em apenas um objeto, o todo se perde quando isso ocorre.
O malabarista manipula os objetos no ar e não pode olhar especificamente para cada objeto, ele precisa trabalhar com a ideia do todo integrado...
Como o artista consegue isso sem olhar para cada objeto?
Isso é possível graças a Cinestesia ou Kinestesia, ou seja, a percepção consciente da posição e dos movimentos do próprio corpo ou da manipulação de objetos por esse corpo sem o auxílio direto na visão, mas graças à percepção dos músculos e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno que é responsável pela manutenção do equilíbrio do homem.
Temos outros significados para esse termo, correlacionados.
“Há certa confusão em relação aos termos sinestesia e cinestesia: o segundo termo (cinestesia) refere-se ao sentido muscular, a um conjunto de sensações que nos permite a percepção dos movimentos (Michaelis, 1998); o primeiro termo (sinestesia) refere-se a uma sensação secundária que acompanha uma percepção, ou seja, uma sensação em um lugar originária de um estímulo proveniente de um estímulo de outro (Michaelis, 1998 e Dorsch, 1976). Portanto, é importante termos em mente que o termo sinestesia empregado neste trabalho não se restringe à percepção do movimento e suas propriedades (peso e posição dos membros), mas engloba um conjunto geral de percepções e sensações interligadas por processos sensoriais”. (Fonte)
Juggler - Michael Parkes
Juggler - Michael Parkes

A Sinestesia também existe como concepção estética, um movimento de retorno ao subjetivismo e à sensação, fruto do simbolismo. Essa concepção estuda a inter-relação entre os símbolos e elementos, existe uma ligação intrínseca entre os objetos e a natureza, como por exemplo, entre cores, cheiros e sons. A palavra Sinestesia significa a junção de sensações e percepções.
Portanto, trata-se de uma condição neurológica na qual o estímulo em um dos sentidos provoca uma percepção automática em outro sentido. Muitas pessoas enxergam cada letra ou número de uma cor diferente, algumas pessoas imaginam ou veem os sons, outros podem expressar a experiência de sentir o sabor de palavras ou formas, o cheiro dos objetos etc.

“Hoje eu desenho o cheiro das árvores.”
“Estou atravessando um período de árvore (...)
No meu morrer tem uma dor de árvore”. Manoel de Barros

O processo de aprendizagem e de produção do conhecimento, ou podemos dizer também o desenvolvimento de um caldo de cultura, envolve uma série de elementos que precisam se manter em constante movimento e que só funcionam juntos, e para que esse movimento não se perca é necessário olhar o todo, objetivar o equilíbrio e a visão ampliada. Se o foco se prender a apenas um elemento o jogo termina, as bolinhas caem.
Esse é um espaço em que estarão no ar a cultura, a educação, a arte, a filosofia e a tecnologia. Pois tudo é um, e no ar a magia do malabares só acontece porque todas os objetos estão em constante movimento.
Que comece o espetáculo!


O que uma boa leitura nos traz?




Ilustração da Revista Literaria La Noche de las Letras
Ilustração da Revista Literaria La Noche de las Letras


Sobre a leitura rasa da vida e do mundo... A leitura em todas as linguagens.
Decodificar ou compreender?
No livro “O que é leitura”, da Prof. Dr. Maria Helena Martins, especialista em Teoria Literária, temos a ideia de leitura é normalmente restrita ao livro, ao jornal e ao texto propriamente dito. Ler está muito associado às palavras. “As ciganas, contudo, dizem ler a mão humana, e os críticos afirmam ler um filme. O fato é que, quando escapa dos limites do texto escrito, o homem não deixa necessariamente de ler. Lê o mapa astral, o teatro, a vida – forma a suacompreensão de realidade”.
Ler um texto ou uma obra de arte envolve dar sentido ao que se lê, levando em conta a situação desse objeto (texto, obra, filme etc) e também do leitor. Contextualizar. A leitura, independente de um contexto escolar, vai além do texto escrito, trata-se do ato da interpretação e compreensão de expressões, tanto formais quanto simbólicas, estejam no meio de linguagem que estiverem. Não importa. A partir disso a leitura ganha espaço no entendimento do processo de aprendizado de cada coisa no mundo e em nós.
Começamos a ler porque sentimos curiosidade e necessidade de entender o mundo, e para isso não basta seguir com olhos ávidos palavra por palavra ou olhar o mundo a nossa volta consumindo as informações como se os olhos pudessem registrar automaticamente tudo o que veem e como se o cérebro precisasse somente disso para absorver a informação e transformá-la em conhecimento. O processo é muito mais complexo. “Quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a partir das situações que a realidade impõe e da nossa atuação nela; quando começamos a estabelecer relações entre as experiências e a tentar resolver os problemas que se nos apresentam – aí então estamos procedendo leituras, as quais nos habilitam basicamente a ler tudo e qualquer coisa”, reflete a autora Maria Helena. Essa é a verdadeira leitura que interage com o mundo e o modifica, a partir da modificação que acontece primeiramente em nós.
Atualmente podemos identificar alguns elementos relacionados à leitura que têm favorecido e desfavorecido esse hábito.

O tempo
Atualmente nosso comportamento diante do tempo nos deixou pensar que podemos estendê-lo e multiplicá-lo conforme nossas necessidades, no entanto, o dia continua tendo apenas vinte e quatro horas. Cada vez mais nos forçamos a triplicar a quantidade de tarefas que precisamos fazer esquecendo-nos do quão importante é a verdadeira dedicação do tempo para cada tarefa. A pressa nos obriga a correr e acreditamos realmente que é possível fazer tudo de forma acelerada. Sentimo-nos obrigados a seguir roteiros impossíveis entre nossa vida pessoal, necessidades, trabalho, estudo, lazer, etc, e aceitamos como fato o contínuo sentimento de culpa por não fazemos tudo o que nos propomos. Nesse ritmo esmagador algumas atividades perdem em qualidade e consistência.

A relevância
O impacto emocional de uma situação garante que ela será armazenada em nossa memória permanentemente, reativando-a mesmo que se passe muito tempo. Esse processo de seleção de memórias e de fixação (quais são relevantes e quais são insignificantes) é realizado pelo cérebro durante o sono. Essa informação sobre a memória funciona para a vida e tudo o que fazemos, incluindo o processo da leitura e do estudo.
O sucesso de uma boa leitura também está relacionado ao grau de importância que damos ao conteúdo que estamos lendo.

Faltam bibliotecas? O livro está caro?
Segundo o site QEdu – um portal gratuito com informações sobre a qualidade da educação no Brasil – na Prova Brasil 2011, aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foi constatado que dos 225.348 professores que responderam à questão, 101.933 (45%) leem sempre ou quase sempre, 46.748 (21%) o fazem eventualmente e 76.667 (34%), nunca ou quase nunca. E por quê? Faltam bibliotecas? Os livros no Brasil são caros?
Em 2009 o 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais registrou que 79% dos municípios brasileiros possuíam ao menos uma biblioteca aberta, são 4.763 bibliotecas para 4.413 municípios. “Em 13% dos casos, as BPMs ainda estão em fase de implantação ou reabertura e em 8% estão fechadas, extintas ou nunca existiram. Considerando aquelas que estão em funcionamento, são 2,67 bibliotecas por 100 mil habitantes no país”. (Censo)
No entanto, o Brasil precisa construir 128 mil bibliotecas escolares em sete anos para cumprir a lei federal Nº 12.244, de 24 de maio de 2010.
E sobre o preço dos livros?
Segundo o SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros, os dados referentes ao mercado editorial brasileiro até 2011 foram os seguintes:
SNEL Gráfico 2010-2011
SNEL Gráfico 2010-2011

A Agência Nacional do Livro em uma pesquisa sobre a produção e vendas do setor livreiro de 2011 constatou que “Mais baratos, os livros voltados à formação e ao aperfeiçoamento profissional foram os que mais cresceram em produção, faturamento e vendas no ano de 2011” e que “O valor do preço médio do livro vendido recua desde 2004, acumulando declínio real médio de 44,7% até 2011”. Já sobre os e-books, incluídos recentemente nas pesquisas sobre o mercado editorial, somam uma quantidade ainda insignificante para influenciar o setor, no entanto os dados gerados pela pesquisa informam que os 5.200 títulos lançados em 2011 correspondem a um faturamento próximo de R$ 870 mil.
Atualmente os amantes dos livros podem contar com inúmeras formas de acesso que até bem pouco tempo atrás não existiam: sebos virtuais, redes sociais especialmente criadas para quem adora ler com dicas de livros, e algumas que funcionam como ponto de troca de livros entre as pessoas. Veja só:
Skoob (rede social)
Goodreads (rede social)
Será mesmo que a internet afasta as pessoas? E nos faz ler menos? :) E então, porque o brasileiro ainda lê pouco?
Segundo pesquisas recentes realizadas pelo QEdu: Aprendizado em Foco - Prova Brasil 2011 - aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), temos 225.348 professores brasileiros: 101.933 (45%) leem sempre ou quase sempre, 46.748 (21%) leem eventualmente e 76.667 (34%), nunca ou quase nunca.
Será que aprendemos a ler, será que os estímulos certos nos foram oferecidos?
A leitura está relacionada a decifrar a linguagem escrita, ao aprendizado, á interpretação do que vemos ao nosso redor – a leitura do mundo – e nos permite o convívio social, o estudo, a produção de conhecimento e a nossa participação no mundo. Lembrando que no Brasil, cerca de 75% da população é analfabeta funcional. Dessas pessoas, 4% chegaram até o ensino superior. Apenas 25% possui habilidades plenas com a escrita e com os números.

Trecho de artigo - site InovarEduca
Trecho de artigo - site InovarEduca


Para ler mais sobre analfabetismo funcional, clique aqui.
Será que a forma como aprendemos a ler não é uma das principais responsáveis pela falta de gosto pela coisa? O método de aprendizado seguiu um caminho rígido e mecânico, regras e padrões que prejudicaram ocultamente a criatividade e a escolha dos estudantes – chamados de “alunos”, que do latim alumnusalumnié, sem luz – e o processo de leitura seguiu o mesmo caminho: “primeiro decorar o alfabeto; depois, soletrar; por fim, decodificar palavras isoladas, frases, até chegar a textos contínuos. O mesmo método sendo aplicado para a escrita. (...) ler se resume à decoreba de signos lingüísticos, por mais que se doure a pílula com métodos sofisticados e supostamente desalienantes. Prevalece a pedagogia do sacrifício, do aprender por aprender, sem se colocar o porquêcomo e para quê,impossibilitando compreender verdadeiramente a função da leitura, o seu papel na vida do indivíduo e da sociedade”. (grifo nosso – O que é Leitura? Maria Helena Martins)
Não basta saber ler para gostar de ler. Se duas pessoas leem um mesmo texto, serão duas formas de leitura diferentes, cada olho vê o que quer, e infere sobre a realidade baseada em suas experiências e conhecimentos prévios. E como ensinar essa ação da análise, da interpretação, do estabelecimento das correlações entre mundo, memória, conhecimento, e no final deixar que essas informações se condensem e se transformem naturalmente em mais conhecimento? Essa é a chave. A educação brasileira não se preocupa em chegar até esse ponto, sustentando um método de chefes e subordinados, o educador que sabe e os seus alumnus.
Foucault já dizia “o poder de disciplinar é, com efeito, um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior adestrar; ou ainda adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor”. (do livro “Vigiar e punir: nascimento da prisão”) Os primeiros livros com os quais temos contato, a maioria de nós (pelo menos) são os livros didáticos que integram a rede de aprendizado, muletas para professores, ferramenta obrigatória integrada ao sistema educacional. Lembrando que os livros didáticos correspondem a maior fatia de toda a venda editorial brasileira. Não custa lembrar.
Segundo Maria Helena Martins “o que é considerado matéria de leitura, na escola, está longe de propiciar aprendizado tão vivo e duradouro (seja de que espécie for) como o desencadeamento pelo cotidiano familiar, pelos colegas e amigos, pelas diversões e atribuições diárias, pelas publicações de caráter popular, pelos diversos meios de comunicação de massa, enfim, pelo contexto geral em que os leitores se inserem. Contexto esse permanentemente aberto a inúmeras leituras. Não é de admirar, pois, a preferência pela leitura de coisas bem diferentes daquelas impostas na sala de aula, sem a cobrança inevitável, em geral por meio das execráveis “fichas de leitura”.
 “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. – O ateneu, de Raul Pompéia.
 Ler – texto, imagem, mãos, sinais – é uma dinâmica e uma experiência pessoal, aliada ao conhecimento de vida, o processo de decodificação da língua é apenas uma etapa necessária para a compreensão da escrita e da fala, não caracterizando a leitura em si. O dar sentido aquilo que se lê pressupõe o desenvolvimento dessa capacidade de estabelecer correlações, de vivência, de observar todos os lados de uma situação, de aplicabilidade das informações, de compreensão dos contextos pessoais e históricos do que está sendo ‘lido’. Novamente o InovarEduca ressalta a importância do educador como intermediador, como o professor de mergulho que avisa onde estão as pedras, mas não nada pelo aluno, apenas segura na mão e o impulsiona para a sua verdadeira e particular experiência. Ele indica as ferramentas, ensina a usar, mas permite uma exploração compartilhada em que ele próprio irá reaprender em coletivo. O educador que ensina o estudante a enxergar e a fazer brilhar sua própria luz, e que nunca, nunca o faz acreditar que ele não a possui, e que depende de um subordinador de seu aprendizado.
 “O propósito de aprender é crescimento, e nossa mente, diferente do corpo, cresce enquanto vivemos”. Mortimer Adler
 Ainda iremos aprofundar mais um pouco sobre a leitura, aguardem...



De Picasso ao labirinto da web


Caballos - Picasso
Caballos - Picasso


Como funciona a experiência de busca por uma informação na internet?
Na imagem acima temos a obra Caballo – de Picasso – um desenho realizado sem a interrupção da linha inicial. Se pensarmos no caminho que se percorre em um labirinto teremos a mesma ideia do desenho acima, como se fosse possível traçar o caminho com uma linha que segue sem interrupção até encontrar a saída. Você pode recuar, errar, voltar o mesmo caminho sem perceber, pode encontrar pistas no meio do percurso ou não, terá que seguir a sua intuição, terá que arriscar... Na web também...
Afinal, como é que se inicia uma busca por uma informação na web? O caminho percorrido entre as páginas, sites, blogs, imagens, as janelas que retornamos, às vezes que nos perdemos... que nos achamos, esse percurso forma um desenho único, cada experiência na web é única, e mesmo quando duas pessoas diferentes procuram por um mesmo termo em um buscador como o Google, por exemplo, ainda assim a experiência será diferente pois os resultados obtidos seguem lógicas baseadas em:
  • Metatags que são informações inseridas no cabeçalho de sites e blogs, elas servem para indicar qual é o conteúdo daquela página e facilitar sua recuperação em uma busca online.
  • Identificação os hábitos dos usuários conforme suas buscas e “cliques” anteriores, registrando essas informações e oferencendo, a partir disso, propagandas que possam interessar a esse usuário.
Ou seja, dois computadores diferentes, duas pessoas diferentes buscando pela mesma informação, irão deparar-se com uma lista de resultados diferentes oferecidas pelo mesmo buscador. Faça o teste você mesmo.
Quem seriam as deusas Ariadnes que nos auxiliam oferecendo um fio para que possamos encontrar o caminho de volta? No mito grego de Ariadne, filha de Minos (Rei de Creta), temos a seguinte situação:
Ariadne apaixona-se por Teseu, que decide enfrentar o monstro Minotauro, guardião de um labirinto cuja lenda dizia que não era possível encontrar a saída, a única saída era a morte ao ser devorado pelo monstro. O Oráculo de Delfos o adverte, ele terá sucesso em sua viagem pois será ajudado pelo amor. “Ariadne, a filha do rei Minos, lhe disse que o ajudaria se este a levasse a Atenas para que ela se casasse com ele. Teseu reconheceu aí a única chance de vitória e aceitou. Ariadne, então, deu-lhe uma espada e um novelo de linha (Fio de Ariadne), para que ele pudesse achar o caminho de volta, do qual ficaria segurando uma das pontas. Teseu saiu vitorioso e partiu de volta à sua terra com Ariadne, embora o amor dele para com ela não fosse o mesmo que o dela por ele”.
A professora em Tecnologias da Inteligência e Design Digital e artista plástica brasileiraLúcia Leão, em seu livro “O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço”, descreve que “O fio de Ariadne não é só um instrumento para não se perder e poder retornar. Ele é também o instrumento com o qual o viajante consegue avançar. Pois os corredores que ainda não foram explorados não têm o fio, enquanto que aqueles que já foram visitados têm a marca do fio. Os browsers, de uma forma geral, recuperam essa marcação do fio de Ariadne ao marcar os sites já visitados”. A autora continua exemplificando essa caraterística ao nos lembrar que ao clicar em um link o mesmo modifica de cor (torna-se roxo) o que nos indica que já foi clicado, isso nos ajuda a não clicar novamente no mesmo link/caminho por engano. Sem esse recurso ficaria difícil saber o que já percorremos.
No entanto, Lúcia reconhece dois tipos de percursos: o percurso da Ariadne louca e o da Ariadne sábia. A louca é aquela em que se é livre para descobrir novos caminhos, sem precisar do fio, sem precisar de uma lógica única, é um mundo de possibilidades em que se pode mudar o trajeto a qualquer momento. A sábia é aquela que presta atenção no caminho que está sendo percorrido para não perder-se, mantendo a concentração e não se permitindo mudar o trajeto para explorar novas ideias ou estímulos.
Quando iniciamos uma pesquisa online nos deparamos com estímulos diversos, e normalmente mantemos várias janelas abertas, músicas, e-mails, redes sociais, notícias... E é fácil perder-se do objetivo final, mas como dizia Clarice Lispector “Perder-se também é caminho”. Ou porque não relembramos essa famosa citação:
Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar. Antonio Machado
A teoria da Ariadne sábia inibe o processo de pesquisa e casualidade que ocorre em situação idêntica a uma visita a biblioteca. Você pode querer ficar solto pelas estantes e “fuçar” à vontade, e de repente ser remetido para outros assuntos, autores e o que mais a casualidade permitir. Por outro lado você também pode entrar em uma biblioteca e dizer o que quer e esperar por uma resposta objetiva, rápida e correta. Essa última seria um bom exemplo da teoria da Ariadne sábia.
Mas, a web não é grande demais para permitir-se perder-se por ai à vontade? Temos tempo para isso?
Se pudéssemos entender o tamanho da web talvez esse desenho fosse de grande utilidade:
Superdownloads
Fonte: site Superdownloads

Veja onde está o Google... Ele não está lá na superfície por acaso, na verdade, segundo Ladislau Freitas, a partir de uma pesquisa sobre um estudo feito pela Universidade da Califórnia no ano de 2001, a estimativa é “que toda a Internet apresentada pelos mecanismos de busca corresponde a bem menos de 1% do tamanho real”.
Em uma conversa com o Artista e Webativista Hernani Dimantas a equipe do InovarEduca tentou entender um pouco mais sobre os 99% da web e onde ela está, porque não temos acesso a ela? Realmente não temos?
A Deep Web (ou Dark Net, Free Web, Invisible Web, entre outros termos semelhantes) é um território pouco explorado, mas ele está lá, ele pode ser acessado. Lá estão a web livre, os torrents, o protocolo IRC para comunicação na web e usado para chats e troca de arquivos, o mundo dos hackers...
Imaginem uma imensa livraria, há pessoas que se contentam em parar nas primeiras bancas com os best-sellers, e há aqueles que sabem onde ir, ou que ao menos exploram as prateleiras ao fundo, e há sempre um funcionário que poderá orientar você. Hernani nos diz que a Deep Web é onde estão as networks, e lá não é preciso orientação, uma liderança que indique o caminho, lá é um campo aberto para exploradores que buscam novas ferramentas e compartilham seus conhecimentos.
A maioria das pessoas não sabe como pesquisar, o InovarEduca abordou esse tema em dois artigos: “Aprendendo a aperfeiçoar suas buscas no Google” e “Como escolher as palavras-chave relevantes para o sucesso de sua pesquisa?”. Nesse caso tratamos especificamente do Google, mas a lógica da busca e das palavras-chave se aplica a todo o tipo de pesquisa. Até mesmo uma biblioteca física. Às vezes a resposta a uma pesquisa está errada porque é necessário mudar a pergunta.
Essa inabilidade para pesquisar é um prato cheio para que os search engines possam aplicar suas lógicas baseadas em um grupo líder nos resultados, baseados no que já tratamos acima: metatags e estudos sobre o comportamento do usuário conectado baseado na intenção do marketing, muitas vezes.
Hernani completa dizendo: “As pessoas têm aquilo que elas merecem”. As ferramentas estão à disposição, basta querer, basta explorar, dedicar-se e querer aprender, desenvolver a curiosidade e desacostumar-se a receber tudo pronto. Precisamos nos desvencilhar do pensamento de que se algo não está no Google então não existe. Estamos acostumados a ter um líder, alguém ou algo que nos aponte as referências, mas a experiência do aprendizado, do compartilhamento e da produção de conhecimento exige de nós um novo comportamento: a ousadia, a autonomia, assumir a corresponsabilidade por buscar e disseminar.
Será que sabemos como estudar? Será que sabemos como pesquisar? Será que não estamos muito mal acostumados? Bibliotecários sempre trazem essa questão à mesa quando tratam sobre como os alunos (de qualquer nível, ensino fundamental, médio ou universitário) iniciam uma pesquisa na biblioteca. Já perguntam qual é o livro que possui tal assunto, e com o livro na mão, muitas vezes não se dão ao trabalho de olhar o índice ou o sumário. Como mágica, muitos deles abrem a obra pelo meio esperando que a informação pisque e grite: estou aqui!
Será que basta para a lógica da web um trabalho minucioso de web semântica e de inteligência artificial para satisfazer nossas dúvidas em uma busca online? Ou será que aliado a essas novas tecnologias se faz necessário um trabalho profundo de aprender o que é uma pesquisa, como encontrar referências, a quem perguntar, como entender a lógica de resultados dos buscadores e perceber que não recuperam o conteúdo completamente relevante, mas sim os mais clicados, os best-clicked?

Lygia Canelas
Bibliotecária e escritora


Carnaval: a expressão do caos


Ilustração Hernani Dimantas
Ilustração Hernani Dimantas

O Carnaval é a expressão do caos. O batuque ritmado na Bahia reflete no bater asas das borboletas na estação primeira de Helsinque. 

O samba é movimento. O corpo acompanha o compasso da dança. 
Parece o mato que invade florestas. Não precisa pedir permissão. A vida é o samba.
Eu não sou um folião. Gosto dos sambas, das mulheres e das cervejas. Mas essa mistura me deixa perdido no meio da corja da felicidade. Sou um observador participante. 

O meu carnaval imaginário começa quando a festa termina. O Carnaval é a apoteose de um trampo. Pessoas trabalham o ano todo para poder explodir em alegria. Um orgasmo represado que mostra faz das ruas a explosão de sentidos. 

Tudo isso é quase invisível. Está longe das câmeras da globo. Das celebridades, das rainhas que dançam semi nuas pelas pseudo avenidas do Brasil afora. Onde pessoas comuns se reúnem para fazer acontecer. O empreiteiros da colaboração refletem o melhor do Carnaval. A revolução nunca é televisionada.
Desde que o samba é samba é assim.

O Carnaval é estratégia. É o que mais se aproxima da ideia da politica das multidões. Uso como exemplo que com certeza escamoteia a verdade.
Pois, a multidão traz consigo o monstro revolucionário. Digo isso de forma metafórica. A festa não mais pertence às pessoas. O capitalismo desenfreado tomou conta da festa. 

Mas a multidão é a contradição. Ela cresce com o perigo. Ela se reorganiza. Se refaz. 

Carnaval também é processo. Ele acontece. Conta com uma organização implícita. Onde o improviso, a impermanência e a necessidade fazem da gambiarra a expressão do possível. A gambiarra como parte do processo criativo. Com uma chave de fenda e meia dúzia de ideias velhas podemos transformar o mundo.
MacGyver rules... Wink

Mas não existiria essa confraternização pagã se não fosse a vontade das pessoas na construção coletiva. Onde as mascaras escondem os corpos suados e fazem da intenção, o gesto.

O gesto é o amor ao samba. Um guarda chuva de emoções. Que engloba a festa e todos os outros dias. Reproduz nas cordas de um cavaquinho. No tamborim, no reco-reco. O samba do criolo doido.


Hernani Dimantas é artista, escritor e webativista. Desde 1997 tem-se dedicado ao estudo, à discussão e à elaboração de projetos colaborativos em rede, publicando um número expressivo de artigos em livros, jornais e revistas sobre a Internet como um meio aberto à produção coletiva e destinado à troca de ideias e conhecimento entre as pessoas. Doutor pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Autor dos livros: Linkania: uma Teoria de Redes (2010) e Marketing Hacker (2003). Fundador e articulador do projeto MetaReciclagem. Fundador do lixoeletronico.org.

Só não vai quem já morreu!


“E o Mundo não se acabou...” Carmem Miranda

E já que o mundo realmente não se acabou vamos retomar a vida e continuar com nossos planos. E para planejar é preciso sonhar, é preciso exercitar a imaginação, é preciso brincar. Quem aqui já não aprendeu a mexer em uma ferramenta nova apenas “fuçando” ou brincando com ela? A leveza e o aparente descompromisso da brincadeira nos permite uma liberdade para recarregar energias, elevar a mente, deixar os pensamentos fluírem livremente e permitir-se viver experiências.
Carnaval em Olinda
Carnaval em Olinda

O carnaval, como o conhecemos atualmente, teve sua origem nas festas europeias chamadas Entrudos, que quer dizer liberdade... No início essas festas aconteciam somente dentro de casa, no entanto com o tempo elas ganharam as ruas, o que reforça ainda mais a ideia da liberdade. Nessas comemorações todos podiam brincar com todos, desconhecidos, escravos, senhores e senhoras... Talvez o despir-se tenha a ver com isso, estar desconstruído para depois construir-se novamente sob outra ótica. Afinal, às vezes é preciso parar o curso da viagem para entender melhor de onde estamos vindo e que caminho estamos fazendo. Por quem estamos fazendo? E para quê?
Entrudo
Entrudo

"Criatividade é inventar, experimentar, crescer, correr riscos, quebrar regras, cometer erros, e se divertir." Mary Lou Cook
Incorporamos ao nosso carnaval as serpentinas, máscaras, músicas e fantasias francesas, além dos confetes italianos. Uma grande brincadeira para permitir... É permitido ser outra pessoa, é permitido usar uma máscara, é permitido conversar com todo mundo, pegar na mão de quem não se conhece, como diria Carmen Miranda na marchinha “E o Mundo não se acabou...”.
Com o tempo as marchinhas brasileiras começaram a surgir revelando o bom humor e a criatividade típicos nacionais. Foi nessa época que a compositora brasileira Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marcha carnavalesca ("Ô Abre Alas", 1899), começa a conferir um ar mais nacional às canções populares de carnaval.
Vamos acompanhando a história da estrutura do carnaval: primeiro era dentro de casa, depois a festa ganha as ruas, depois transforma-se em cordões e posteriormente em blocos... e depois em multidão! Getúlio Vargas sugere a criação de uma União das Escolas de Samba, uma organização compartilhada de informações e ações práticas em benefício da continuidade dessa festa popular que corria o risco de terminar devido à reurbanização de algumas cidades. União...
Dodo e Osmar criaram o Trio Elétrico em 1950
Dodo e Osmar criaram o Trio Elétrico em 1950

As ideias são assim também, livres... E devem terminar em união e compartilhamento, multidão, um só coro de vozes e baterias. E o trio elétrico, surgido na década de 1950 em Salvado (Bahia), vai seguindo na frente, vai contagiando um murmurinho infindável de foliões prontos a despir-se de quem são para vestir novas fantasias, para ferver... É da ai que vem a palavra frevo, você sabia? Esse calor veio lá de Pernambuco.
"Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu"... ("Atrás do trio elétrico", do álbum Caetano Veloso)
Frevo
Frevo

Esse grande caldo de cultura, de manifestação se assemelha muito ao movimento humano (preste bem atenção, eu disse humano) na web, um murmurinho de vozes, trios elétricos chamando para discussões acaloradas, para brincar, para fuçar, para aprender, para compartilhar, para se permitir... Só não vai quem já morreu. “A internet não tolera indolentes” (Daisy Grisolia).

“Quem parte leva saudades de alguém que fica chorando de dor
Por isso eu não quero lembrar quando partiu meu grande amor
Ai, ai, ai ai, ai ai ai,está chegando a hora
O dia já vem raiando, meu bem, eu tenho que ir embora”...


Escopo, recursos, tempo...


Bateria da mocidade independente da Nova Corumb
Bateria da mocidade independente da Nova Corumbá


Escopo, recursos, tempo, qualidade, fatores de risco x fatores de sucesso...e por aí vai a lista dos elementos analisados em um projeto, segundo os cânones do PMI.
As escolas de samba, foram analisadas como modelo de projeto em que todos os requisitos são brilhantemente executados, sem que exista uma documentação formal e estruturada. Na hora certa, 4000 a 5000 pessoas estão no local certo, com as roupas corretas, em posição e sabendo exatamente qual o papel a executar. Precisão quase milimétrica ao lado de espontaneidade e invenção.
Como é possível? Objetivos claros e compartilhados. Comprometimento e desejo comum. Entusiasmo e Colaboração! Vc já pensou como seria criativo levar essa sabedoria para a outra escola? Aquela que vivemos dizendo que não funciona, porque de algum modo ficou tão engessada que perdeu o espaço para tudo isso?




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Meu projeto acabou... E agora?


Conheça os principais editais para projetos culturais para 2013 e saiba o que é Economia Criativa e Economia da Cultura
Sobre o desenvolvimento e economia da cultura existem duas áreas diferentes, definidas por termos que ainda não se consolidaram muito bem no Brasil: Economia Criativa e Economia da Cultura. Ana Carla Fonseca, economista, doutora em Urbanismo, autora de oito livros e conferencista e consultora Internacional que atende Órgãos públicos e privados e ONU, nos orienta que esses dois termos não são sinônimos.
O termo Economia da Cultura surge na década de 1960, por uma iniciativa cultural, uma época em que a indústria automobilística e a tecnologia estavam ganhando cada vez mais espaço e os empregos começavam a diminuir. “Os teatros, em especial da região da Broadway em Nova Iorque, contavam como ainda contam com recursos das fundações como Ford, Rockfeller e outras. Essas fundações começaram a ficar inquietas por que por mais que colocassem verbas e fossem verbas às vezes maiores às vezes constantes nesses teatros muito deles tinham dificuldade de sustentabilidade. Ficava a duvida, será que era malversação de recurso, será por falta gestão o que será que acontece que esses os recursos não são suficientes. Então encomendaram um estudo a dois economistas, Bauman e o Bowie que passaram a serem considerados os pais da economia da cultura para explicar esse enigma”.  (Fonte)
Hoje o bate-papo é com a produtora cultural Ana Fonseca. Mais uma Ana fera no assunto. ;) Ela também é bailarina, fundadora e diretora do Massala Diversidade Cultural, da Rádio Web Sessions Brasil (contemplado pelo Programa de Valorização de Iniciativas Culturais - VAI) e possui mais de dez anos em experiência na área projetos em diversos âmbitos culturais.
Ana Fonseca
Ana Fonseca

A equipe InovarEduca perguntou a Ana como anda o mercado de editais hoje?
“O mercado de editais está em um processo crescente já há algum tempo, de iniciativas privadas e públicas também. Porém, ao mesmo passo em que estão em maior quantidade e mais diversificados, estão mais exigentes também. Temos que ficar atentos sempre, pois cada edital está muito mais específico em suas exigências, acabou aquele senso comum de "mandar o mesmo projeto para vários editais".
Quais são os principais Editais que você recomenda para quem quer iniciar um projeto em 2013 e que valem a pena?
“Pra quem está começando e mora aqui em São Paulo, indico o Edital do Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) da Prefeitura. É um programa que acredito muito, que prioriza a diversidade cultural, que dá muitas oportunidades, tem técnicos dedicados e é muito parceiro mesmo de todos os proponentes. No Estado de São Paulo ainda tem o Proac, e as Leis de Incentivo Estaduais e Municipais, além do PROAC Editais. Para quem mora em Pernambuco, o Funcultura tem dado bons resultados, e as Prefeituras de Belo Horizonte e Curitiba estão com bons editais principalmente para artes cênicas.
Algumas instituições como o Sesi também abrem editais ótimos, e uma dica são os editais para projetos socioculturais que eu vi para 2013, como o do Fundo Brasil de Direitos Humanos e da UNI Women para projetos que trabalhem a questão da violência contra a mulher”.
Ana também nos conta um pouco sobre a dificuldade em elaborar os projetos para os editais e da importância de se preparar para isso:
“Quando me deparei com o primeiro edital, vi que não era coisa boba de se fazer. Mas também impossível não era. Deveria ter era muita, mas muita criatividade (que transbordasse o nível normal), atenção a todos os detalhes (especialmente os mínimos), cuidado, carinho, e calma (emoção deve ficar de lado na hora da escrita). Ter a cabeça fria para a montagem do projeto é mais que fundamental, mesmo se o coração esteja pegando fogo pela emoção de ver um “filho” (projeto) tomar corpo, crescer e ir para os braços de uma comissão julgadora.
O meu primeiro projeto, não foi exatamente um projeto. Foi uma monografia, uma tese. Poderia facilmente encadernar em capa dura e ser algum TCC. Porém, com o tempo e algumas reprovações, a gente aprende que, também na produção cultural, vale a regra “menos é mais”. Projetos coesos, objetivos, mas nunca, jamais, em tempo algum, incompleto. Deve ter tudo. Meia vírgula faltante é passível de reprovações.
Chegou um determinado momento, que mesmo “fuçando” bastante (porque quem trabalha com cultura é curioso por natureza), percebi que sim, devemos ter uma formação técnica. Atualmente, não tem como. Dentre os vários cursos existentes, escolhi o curso do Senac, em concepção de projetos e foi muitíssimo importante para os meus passos adiante. Hoje, mesmo tendo este e outros cursos na área de produção cultural, a falta que faz um estudo acadêmico é (para mim) gritante. Estou à frente do sistema de produção cultural de muitas coisas: da minha produtora (Massala, aqui mesmo rs), dirigindo a Rádio Sessions Brasil, e na comunicação do Coletivo Perifatividade. Ou seja, estudar virou questão obrigatória. Pós-graduação, aí vou eu”!

Em um dos seus artigos, no seu blog do Massala, você cita o Sebrae como uma das opções para estudar e entender melhor sobre como gerir um projeto cultural, fale mais sobre isso.
“O bom do SEBRAE é que eles ensinam a empreender, no meu caso, que tenho uma produtora, é ótimo porque me dá varias dicas de como tocar a empresa. No caso de quem trabalha especificamente com editais, é bom para aprender a gerenciar o orçamento, especialmente orçamentos grandes, e o produtor não vai ter contador, ou vai ficar de olho no trabalho do contador”.
Ana dá as dicas de onde pesquisar sobre o assunto e onde estudar:
Para pesquisar:





Para estudar:










Pesquisando mais sobre o assunto encontramos mais alguns links que podem ser úteis:


Leia mais sobre o assunto no blog Massala:



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