quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O bruto, o fragmentação e a representação


Fonte: https://www.facebook.com/Selvet.dk
Escopo x recursos x tempo=qualidade do produto/serviço. Durante muito tempo, envolvida nos paradigmas de gestão de projetos essa equação dominou as análises e decisões na hora de implantar, implementar e monitorar o desempenho de equipes. Na educação, hoje em dia, a palavra de ordem é gestão e números... Como um mantra mágico que pudesse resolver todas as mazelas do sistema. Falta na equação e nas ações em prol da educação um elemento chave - pessoas. Pessoas com vontade podem superar todas as equações e dogmas. Pessoas sem vontade podem atravancar tudo e fazer das grandes oportunidades, fracassos retumbantes. Não subestimem as pessoas (para o bem e para o mal) - jamais!
Resultados acima de tudo e a qualquer preço, dão exatamente nisso - resultados - a qualquer preço e acima de tudo - O problema é o que se paga e o que se perde pelo caminho com essa atitude.
Não precisamos mais da pressa em emoldurar resultados, para sossegar nossa mente com a falsa ideia de finalização de um processo, mas sim aprender a valorizar o processo e entender que cada pequenina fase dele é um começo/meio/fim/começo eterno e já apresenta “resultados”. E nada tem um fim. O universo é infinito. Os processos são contínuos, pois o ser humano evolui todos os dias e a sociedade descobre coisas novas e nunca está parada. O resultado que as pessoas esperam das coisas é sempre uma tentativa ansiosa de se chegar a um lugar, mas o lugar não importa mais do que o caminho e as pessoas que você encontrou nele, como você agiu, que escolhas fez, o que descobriu, o quanto errou, o que te acrescentou e que essa viagem, essa jornada será eterna enquanto você viver. E mais ainda, se sua jornada termina (com a morte?) o conhecimento ainda vive, seus registros, seu compartilhamento, suas experiências seguirão além da sua existência solitária.
“We delight in the beauty of the butterfly, but rarely admit the changes it has gone through to achieve that beauty”. Maya Angelou
Há muitas formas de ver e representar o mundo: as ciências, as artes, a religião... São apenas representações do mundo e não o mundo propriamente dito. Moacir - arte bruta, documentário de Walter Carvalho, mostra a representação do mundo de Moacir, não menos verdadeira e inteligente do que a nossa, mesmo que a primeira vista não se perceba isto...

Moacir tem 42 anos e vive com sua família, num recanto na porta do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, em que cultivam lavouras. Com problema de audição, de fala e formação óssea, ainda assim Moacir desenha incessantemente desde os 7 anos. Seu pai conta que o filho expressa o seu “mistério interior”, visões que aparecem em sua cabeça.
A arte de Moacir trazem símbolos de um mundo particular colorido e extraordinário que remetem à religião, ao erotismo e à fauna e flora da chapada.








A expressão arte bruta (em francês Art brut) foi concebida por Dubuffet, em 1945, para designar a arte produzida por criadores livres de qualquer influência de estilos oficiais, incluindo as diversas vanguardas, ou das imposições do mercado de arte. Dubuffet via nesses criadores - oriundos de fora do meio artístico, a exemplo dos internos em hospitais psiquiátricos - a forma pura e inicial de arte. (Wikipédia)
"A arte não vem quando chamamos e se deita nas camas que foram feitas para ela, ela foge assim que alguém pronuncia o seu nome: ela gosta de ser incógnita. Seus melhores momentos são quando esquece como se chama". Jean Dubuffet
O bruto é o inicial, o criativo, o natural. Aquilo que não teve “acabamento”. Não acabou, não se emoldurou segundo regras, dogmas, métricas, resultados, avaliações, o bruto é. Desse bruto se pode ver a verdade de cada um, a gana, o impulso, o que nos move. E com o tempo somos treinados a classificar o que sentimos, o que aprendemos, e perdemos a noção do bruto, do criativo, do natural e do quanto tudo aquilo que foi dividido já foi uma coisa só. E sendo uma coisa só fazia outro sentido. Um sentido natural e amplo.
A catalogação de informações visa sua fácil identificação e recuperação. A classificação científica ou biológica organiza espécies e as categoriza, tudo em prol de um sistema que permita o estudo de cada parte. Nesse momento é importante dividir para estudar, para compreender. Mas o funcionamento está no todo.
Dividir e classificar é um recurso de racionalização para compreender coisas muito complexas. O problema é que no meio do caminho as pessoas esquecem que isso é um artifício de pensamento (para uma etapa e um objetivo específico) e passam a tomar a representação da realidade pela realidade, que continua sendo sempre muito mais complexa.
Não funcionamos por partes, todas as partes juntas é que funcionam.  O ensino dividiu tanto as disciplinas, que nos dividiu também e nos fez esquecer o todo. Nos fez esquecer que o bruto, o natural é esse todo que funciona e é a realidade. Saímos da escola despreparados para a realidade, para o todo. Só entendemos por partes. Nos acostumamos a isso. E tudo o que não for previamente classificado e não tiver uma etiqueta, um rótulo, não é facilmente identificado por nós. Mas e a nossa intuição? E o nosso todo, não está funcionando? E Moacir?
Ele percebe, ele cria, ele funciona e percebe a realidade. Moacir foi classificado como deficiente mental, no entanto, ele não sabe disso. Eis a grandeza. Precisamos esquecer que fomos classificados previamente.
Assista ao trailer do documentário Moacir, de Walter Carvalho, aqui.
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Esse artigo é fruto de muitas discussões, conversas e encontros online entre Daisy Grisolia e Lygia Canelas (Equipe InovarEduca).
@DaisyGrisolia
@LygiaCanelas



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