terça-feira, 23 de outubro de 2012

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NO BRASIL


O cenário educacional brasileiro, tanto na universidade quanto na educação básica, refletem decisões tomadas não na base de dados numéricos analisados em profundidade, mas, sim, em bases condicionadas por critérios estabelecidos e endurecidos por uma instituição governamental tradicional.
A sociedade agora foi estimulada a prosseguir com seus estudos, a tomar iniciativas para facilitar seu trabalho, sua vida, e não depende mais somente da certificação acadêmica. O processo tornou-se mais importante que o fim. Não somos números nem diplomas, mas sim somos o que podemos fazer. Somos tudo o que pudermos aprender.
O atual presidente da ABED, Prof. Dr. Fredric Michael Litto, trouxe à cena questionamentos sobre a capacidade de acompanhamento que o nosso país demonstra, em relação às mudanças disruptivas em toda a sociedade atual: Será o nosso país está acompanhando os demais países nessas mudanças promissoras? Quem são aqueles que não estão se beneficiando com elas? Qual é o papel da EAD com relação aos REAs (Recursos Educacionais de Aprendizagem)? Quem são os principais contribuintes de REA no país? Como estimular uma participação maior de governos, instituições de ensino, centros de pesquisa, editoras de livros e revistas, além de outros setores da sociedade em geral?
Esses foram os temas do 18º Congresso Internacional da ABED em 2012.
Mas não iremos falar do Congresso, iremos tentar tratar aqui da formação dos professores, e em como esse processo tem se adaptado ou não às novas demandas de uma sociedade de tecnologias e conhecimentos abertos.
Cada período histórico em nosso país apresentou uma realidade educacional diferente, influenciadas pelo estado, pela sociedade e pelos modos de produção, as quais determinaram as ações no processo de formação de professores.
No Brasil atual as ações nesse segmento fundamentam-se na orientação dos organismos internacionais que financiam nossa educação, como a UNESCO que também determinou orientações para o desenvolvimento dos sistemas educacionais mundiais, em termos de saberes e competências indispensáveis para o desenvolvimento pessoal e social no século XXI, o que prevê a inclusão das novas Tecnologias de Informação e Comunicação TICs).
No livro "A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa”, o autor Nicolau Sevcenko usa a imagem dinâmica de uma montanha russa para avaliar a transição do século XX para o XXI. Nesse momento em que vivemos estamos no clímax, o carrinho está descendo a todo o vapor e é aqui o ponto em que relaxamos diante da física, da fluidez, da aceleração, não há o se fazer, todos se resignam. Esse período refere-se ao surto de transformações tecnológicas: a revolução da microeletrônica.
O autor define essa fase como o momento em que “a aceleração das inovações tecnológicas se dá agora numa escala multiplicativa, uma autêntica reação em cadeia, de modo que em curtos intervalos de tempo o conjunto do aparato tecnológico vigente passa por saltos qualitativos em que a ampliação, a condensação e a miniaturização de seus potenciais reconfiguram completamente o universo das possibilidades e expectativas, tornando-o cada vez mais imprevisível, irresistível e incompreensível. A técnica deve ser posta a serviços de valores humanos, beneficiando o maior número de pessoas”. E o autor nos alerta, esses benefícios devem se estender às gerações futuras.
A corrida tecnológica que sucedeu à Guerra Fria privilegiou aqueles que puderam garantir soberania a partir de autonomia tecnológica, logo, educação, ciência e tecnologia foram as três chaves da nova era.
“A ideia não era mais garantir um bom emprego para todos, conforme a tradição socialista, mas disseminar o espírito da concorrência agressiva por intermédio de uma nova agenda educacional...”, conclui Sevcenko. Aqueles que não seguirem essa regra serão vistos como vítimas de sua própria incapacidade e inadaptabilidade. Em suma, nosso sistema educacional mundial nos prepara para a guerra, uma guerra diária e veloz.
O sociólogo espanhol Manuel Castells define esse momento em que vivemos como uma sociedade em rede, a partir da introdução de novas tecnologias, como sendo caracterizada “por uma cultura de virtualidade real construída a partir de um sistema de mídia onipresente, interligado e altamente diversificado. [...] Essa nova forma de organização social, dentro de sua globalidade que penetra em todos os níveis da sociedade, está sendo difundida em todo o mundo”.
E como os educadores brasileiros e os sistemas educacionais se adaptaram diante disso tudo? Atualmente a crise na educação tem sido tratada apenas nos sintomas, e grande parte da culpa foi atribuída ao professor. Um professor é formado por outros professores que também foram formados por professores, todos oriundos de um mesmo sistema cíclico e vicioso que cobra o que não ensinou, que cobra um ambiente que não proporcionou e um senso de criatividade e liberdade que não foi incentivado. Todo professor foi criança.
A inclusão das novas TICs tem sido avaliada sem profundidade pelas ações governamentais que se apegaram à máquina e esqueceram aquilo que está vivo e pode apropriar-se das tecnologias, redes e da imaginação. Mais do que tecnologia é preciso repensar que modificações comportamentais elas proporcionaram às pessoas. Redes... autonomia, compartilhamento, produção e consumo, prosumers... Não dependemos da televisão para nos atualizar, nem do jornal preferido deixado a nossa porta pela manhã, podemos mergulhar na rede e organizar as informações que queremos, direcioná-las para nossos e-mails, podemos produzir, consumir, publicar, não precisamos pedir permissão, não precisamos ler manuais, basta encontrar grupos que possam nos ensinar, debater e compartilhar dúvidas e experiências.
Em sua tese sobre a integração de mídias em ambiente digital na construção de cursos a distância para pedagogia, a pesquisadora, Profª e Drª Clausia Mara Antoneli, destaca os seguintes dados de acordo com o Educacenso 2007: cerca de 600 mil professores em exercício na educação básica pública não possuem graduação ou atuam em áreas diferentes das licenciaturas em que se formaram. Os cursos serão oferecidos tanto na modalidade presencial como a distância, pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), e alguns já devem começar no segundo semestre de 2009. Outros têm início previsto para 2010 e 2011.
A informação é de 3 anos atrás, e o que efetivamente mudou? Entre iniciativas precipitadas como a distribuição de tablets para alunos e professores, o que de fato se transformou?
Nesse infográfico podemos ver o investimento do Governo Federal na educação básica.
“Tecnologia é mato...” (Hernani Dimantas) O humano, o comportamento, as necessidades, o complexo e o profundo... Será que o professor está recebendo uma formação diferenciada para o novo mundo?
O Programa Universidade Virtual do Estado de São Paulo - Univesp -, criado em 2008, tem como principal objetivo a expansão do ensino superior público, gratuito e de qualidade em todo o estado de São Paulo, através da ampliação do número de vagas e de sua abrangência geográfica.
“Trata-se de otimizar a utilização dos recursos humanos e materiais disponíveis nas universidades públicas paulistas e nas instituições parceiras, juntando-se recursos metodológicos e tecnológicos que possibilitem oferecer ensino superior público gratuito de alta qualidade para o maior número possível de estudantes do Estado”. (Site Univesp)
Para isso o programa conta com uma TV digital e aberta, cursos semi ou presenciais, encontros semanais obrigatórios, atividades em ambientes virtuais de aprendizagem, uma revista digital e um livreto. Os cursos oferecidos objetivam ampliar o número de vagas no ensino superior público de qualidade no Estado de São Paulo e, mais especificamente,capacitar professores que já atuam na educação básica. Para acessar os cursos e participar do programa os participantes primeiro precisam passar na avaliação...
Os alunos têm acesso aos conteúdos de cada curso, às ferramentas de interatividade e a um conjunto de atividades que devem cumprir em cada uma das fases do curso, as quais serão avaliadas por um tutor, que deve analisar e orientar o aluno na sequência das atividades curriculares. O cumprimento dessas atividades equivale à “presença do aluno em sala de aula no modelo de educação presencial. Mas sua presença física será exigida sempre que a programação dos cursos incluir atividades presenciais nos polos, como em aulas de laboratório ou nas avaliações (provas)”. Existe o contato online e permanente entre os tutores dos cursos e alunos ou grupos de estudo e fóruns de discussão que ocorrem em horários pré-determinados.
O que significa capacitar um professor?
ca.pa.ci.tar
(lat capacitate+ar2vtd 1 Tornar capaz. vpr 2 Ficar convencido, persuadir-se. vtd 3 Fazer acreditar, persuadir. (Dicionário Michaelis)
Precisamos torna-los capazes? Convencê-los, fazê-los acreditar? Professores que já foram alunos...
O processo para que as mudanças internas aconteçam é lento, é mais fácil aprender a estar preso do que lidar com a liberdade. Ainda mais se essa liberdade estiver mascarada em alguns aspetos. O investimento em tecnologia é importante, mas o entendimento da fluidez das redes é mais ainda. Pois o ensinar em rede existe mesmo quando não se tem a internet... O compartilhar é um elemento que se potencializa com o uso da internet, mas o processo generoso de trabalhar em coletivo é algo que não foi entendido completamente e não é a tecnologia que traz o entendimento, mas as necessidades humanas, a reflexão sobre o que estamos aprendendo e para quê?
Será que estamos apenas transferindo o ensino presencial para plataformas e mantendo o mesmo formato humano de controle, avaliação por terceiros, consumo e nada de produção coletiva?

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