segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Livro...


Ilustração de The Heads of State
Ilustração de The Heads of State


Você desliza os dedos, seus olhos percorrem as lombadas e títulos, e então o dedinho para porque a mente decidiu. O livro é puxado de seu lugar e essa é a alavanca que desencadeia todo o processo. Não, não se abriu uma porta secreta, mas a imaginação...
Os mesmos dedos deslizam sobre a superfície líquida de um tablet, e com um toque a história desejada é acionada, e se abre como flor preenchendo toda a tela.
Ilustração de Elliot Baggot and Mike Medaglia
Ilustração de Elliot Baggot and Mike Medaglia


Os olhos também passeiam e por vezes pousam sobre cada palavra proferida pela boca daquele que está contando uma história... Então, também podemos ser livros? Acho que sim...
Agora é sentar e permitir...
Mesmo lendo em silêncio, uma voz narradora vai contando a história, pontuando as frases, entonando a voz para um grito, uma canção, um chamado, um sussurro... Enquanto isso a mente aciona a manivela e a mente vai produzindo fotogramas mentais em cadência, e em movimento constante se animam e tornam-se filmes...

Fotograma (Wikipédia)
Fotograma (Wikipédia)
Pendurados entre o cenário mental e a realidade, os olhos devoram frases, sorriem apaixonados, correm livres por onde não existem vírgulas, tropeçam em palavras desconhecidas, saltam no grito de um personagem, repousam nas figuras e descansam para depois tremerem às piscadelas quando alguém fica nu. Olham em volta, “será que alguém viu o que eu vi”?
Ilustração de Anna Elena Balbusso
Ilustração de Anna Elena Balbusso


Não, tudo está seguro, a imagem formou-se apenas em sua mente, sua imaginação está a salvo, então pode continuar a viagem protegido pelo silêncio guardião dos pensamentos.


Lembranças se agitam e se abrem, concorrem e se misturam às imagens das histórias...


Frases e trechos são grifados, às vezes com lápis, às vezes com caneta, às vezes com a memória. Os trechos agitam-se como pequenos papeizinhos jogados em uma caixa e juntam-se para formar ideias completas, sínteses, novos conhecimentos...
Ilustração de Pablo Gallo
Ilustração de Pablo Gallo


No final da viagem, ao longe, está alguém, parado, sorrindo suavemente para você. Você se aproxima passo a passo, mas entende aos poucos que não será preciso ir até lá, não será preciso dizer nada... Pois tudo a sua volta é o cenário na mente daquela figura que sorri satisfeita... o autor...
As luzes se apagam e os olhos se abrem para o real. O mesmo sorriso satisfeito daquele que escreveu agora pousa nos lábios de quem se aventurou a ler...

Ilustração de hika712
Ilustração de hika712




Ilustração de Doug Salati
Ilustração de Doug Salati



Quer saber sobre de onde vem o livro? Assista aqui.
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Lygia Canelas - Bibliotecária e escritora
@lygiacanelas

Como é feita a avaliação sobre analfabetismo funcional



O INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional) há 10 anos, promove a apuração de indicadores de analfabetismos funcional no Brasil através de testes e questionários que são aplicados em domicílio. Esse indicador pretende indicar qual o percentual de brasileiros que possuem conhecimentos rasos de leitura, escrita e números, e apresentam dificuldades de compreensão de textos, problemas de matemática e dificuldades com o raciocínio lógico.
No Instituto Paulo Montenegro, organização sem fins lucrativos, vinculada ao IBOPE, que tem por objetivo desenvolver e executar projetos na área de Educação, podemos obter informações atualizadas sobre o processo de avaliação usado no INAF.
Em 2006 o INAF adotou o método de avaliação estatística intitulado Teoria da Resposta ao Item (TRI). O Doutor em Estatística em Educação, Tufi Machado Soares, foi contratado para realizar a adaptação dos testes do INAF à nova teoria.  Segundo professor Tufi “o INAF é uma medida psicométrica do que os especialistas entendem conceitualmente como o Alfabetismo Funcional dos indivíduos. Atualmente, essa medida é definida com base nas pontuações brutas alcançadas pelos indivíduos no teste especialmente construído para isso. A medida da habilidade do Alfabetismo Funcional em leitura e escrita, por exemplo, obedece a uma escala de 0 a 20 pontos de acordo com o número de acertos desses 20 itens”.
Psicometria envolve um conjunto de processos e métodos de medida utilizados nos estudos de Psicologia.  O teste da Teoria da Resposta ao Item, foca o item, ou a seja, a questão, “propondo modelos teóricos que representam o comportamento das respostas atribuídas ao item como uma função da habilidade do indivíduo. Nesse processo, ela procura explicitar determinadas características dos itens, como sua dificuldade e sua capacidade de diferenciação”, explica Tufi. “A partir desses modelos, técnicas estatísticas são empregadas para obter as medidas das particularidades dos itens e as medidas das habilidades dos indivíduos. Como, em geral, esses modelos não variam nos diferentes grupos de indivíduos, torna-se possível comparar as medidas de habilidade obtidas, mesmo quando se empregam testes diferentes”.
Essa teoria permite que a avaliação se baseie mais em informações do que em pontuações, analisando cada item, permitindo inclusive a inserção de novas questões nos testes em futuras aplicações no INAF. Essa teoria aplicada ao INAF será desenvolvida a partir de uma parceria com o LAMP, pesquisa desenvolvida pelo Institute for Statistics (Instituto para Estatísticas) da UNESCO Canadá, para que os resultados obtidos nos testes possam ser comparados entre países, já que a questão do analfabetismo é um problema mundial que tem sido entendido como uma das prioridades para governos internacionais. Cada teste do LAMP será adaptado às condições socioeconômicas e realidades socioculturais e linguísticas de cada país.
E o que é avaliado exatamente? Não se trata apenas de avaliar se alguém é capar de ler ou não, mas se é capar de entender instruções em uma bula de remédio, em um formulário, fazer cálculos e principalmente avaliar a aptidão para interpretar e usar essas informaçõesem seu cotidiano. Ler não é interpretar.
O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler (Mark Twain).
No livro “O que é leitura”, da Prof. Dr. Maria Helena Martins, especialista em Teoria Literária, temos a ideia de leitura é normalmente restrita ao livro, ao jornal e ao texto propriamente dito. Ler está muito associado às palavras. “As ciganas, contudo, dizem ler a mão humana, e os críticos afirmam ler um filme. O fato é que, quando escapa dos limites do texto escrito, o homem não deixa necessariamente de ler. Lê o mapa astral, o teatro, a vida – forma a sua compreensão de realidade”.
Ler um texto ou uma obra de arte envolve dar sentido ao que se lê, levando em conta a situação desse objeto (texto, obra, filme etc) e também do leitor. Contextualizar. E esse processo não está presente de forma adequada em muitas situações vividas pelo analfabeto funcional. A educadora brasileira Ana Mae também discute o processo de aprendizado, leitura e releitura das obras de arte a partir de uma abordagem triangular que valoriza o contexto.
A leitura, independente de um contexto escolar, vai além do texto escrito, trata-se do ato da interpretação e compreensão de expressões, tanto formais quanto simbólicas, estejam no meio de linguagem que estiverem. Não importa. A partir disso a leitura ganha espaço no entendimento do processo de aprendizado de cada coisa no mundo e em nós.
Leia nosso primeiro artigo sobre esse tema e saiba mais sobre o que é analfabetismo funcional aqui.

Vamos entender o que é Analfabetismo Funcional


Observe a imagem acima... Dá pra saber o que é? Parece um barco. Mas, dá pra navegar com esse barco? Provavelmente você vai responder que não. Você poderia coloca-lo no mar, mas ele afundaria. Faltam partes, falta o básico, de longe nem parece um barco. Trata-se apenas de um pedaço do que foi ou quis ser um barco, mas não poderá navegar. E será que agora poderia ser reconstruído...
Existem pessoas que são lançadas ao mar, à vida, com vários pedaços faltando. Pedaços esses que correspondem às habilidades básicas para viver e se comunicar.
Analfabeto funcional é a denominação dada à pessoa que, mesmo com a capacidade de decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, não desenvolve a habilidade de interpretação de textos e de fazer as operações matemáticas. Também é definido como analfabeto funcional o individuo maior de quinze anos e que possui escolaridade inferior a quatro anos, embora essa definição não seja muito precisa, já que existem analfabetos funcionais com nível superior de escolaridade. (Wikipédia).
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 1978, definiu o analfabetismo funcional como pessoas que são capazes de ler e escrever coisas simples, no entanto não têm as habilidades necessárias para viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Elas leem textos, mas não os compreendem perfeitamente e não ultrapassam as operações básicas dos números.
O IBGE avalia o grau de analfabetismo analisando a quantidade de anos dedicados ao estudo por cada pessoa, no entanto isso não é suficiente para determinar o analfabetismo funcional, pois há pessoas que sejam até a universidade com imensas lacunas no saber.
Segundo o Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a ONG ação educativa, que divulgam anualmente o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) existem quatro tipos de analfabetismo:
  • Analfabetismo: corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços,etc.).
  • Nível rudimentar: corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como, por exemplo, um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica.
  • Nível básico: as pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações.
  • Nível pleno: classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos.
No Brasil, cerca de 75% da população é analfabeta funcional.  Dessas pessoas, 4% chegaram até o ensino superior. Apenas 25% possui habilidades plenas com a escrita e com os números. A avaliação que levou a esses resultados é feita por meio de entrevistas e testes que analisam as habilidades de leitura, escrita e matemática, em brasileiros que tenham entre 15 e 64 anos de idade. Entre analfabetismo básico e o pleno existe uma lacuna de anos, que ainda não se preencheu.
Crianças de até 8 anos de idade tem sido avaliadas e demonstraram aprendizado inadequado em leitura, escrita e matemática no final do terceiro ano do ensino fundamental. A base está corroída. Os buracos e lacunas só crescem, não adianta passar de ano.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Proposta ou Abordagem Triangular – Ana Mae




A Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa é hoje a principal referência do ensino da arte no Brasil. A educadora brasileira Ana Mae, foi pioneira na sistematização do ensino de Arte em museus, quando foi diretora do MAC.  Essa abordagem é a base da maioria dos programas em Arte-educação no Brasil. A proposta triangular surgiu em e foi o primeiro programa educativo do gênero e consiste no apoio do programa de ensino de Arte em três abordagens para efetivamente construir conhecimentos em Arte: Contextualização histórica (conhecer a sua contextualização histórica); Fazer artístico (fazer arte); Apreciação artística (saber ler uma obra de arte).
Tratam-se então da leitura da obra, leitura do contexto da obra e fazer artístico... Raramente as três dimensões são abordadas juntas.
Ana Mae costuma usar a expressão "o reencantamento" para dizer que a educação perdeu o encanto... E sem ele fica tudo raso, um amontoado de números sem sentido... Para ela “arte é cognição, uma cognição para a qual colaboram os afetos e os sentidos”, pelo que o ensino da arte nas escolas deve incentivar a criatividade, facilitar o processo de aprendizagem e preparar melhor os alunos para enfrentarem o mundo. E como é o nosso mundo?
O mundo dos números, dos planos estratégicos, autocráticos ou participativos. Ambos são apenas planos. A partir de planilhas e simuladores podemos trabalhar com o previsível e o seguro, mas o previsível não existem mais. É apenas uma ilusão de estabilidade e controle, nada mais. Citando Ana Mae Barbosa, "a flutuação contextual torna qualquer definição ambígua e controversa. Logo, é da controversia e tolerância à ambiguidade que trata o pós modernismo.”
Por que falar de Ana Mae Barbosa hoje? Porque é no território da arte que a não resposta é a experiência virtureal que estamos vivenciando e não compreendendo ainda.
Para Ana Mae Barbosa, “Arte/Educação é todo e qualquer trabalho consciente para desenvolver a relação de públicos (crianças, comunidades, idosos, etc.) com a arte, como em um diálogo em que um está dentro do outro.
Essa tríade permite que o aluno compreenda uma obra de arte e em que condições ela foi feita, como era o mundo e as pessoas daquela época e a partir disso é possível comparar com os dias atuais, os materiais usados, os novos contextos, etc. O processo da tríade precisa ser interlaçado, não pode separar cada fase e distanciá-las. Ana acredita que o processo de estudar e fazer arte devem ser pensadas a fim de desenvolver a cognição e também uma forma de aprendizagem.
O pós-modernismo caracteriza-se por um uso do sentido crítico para que possamos não apenas apreciar a arte, mas compreendê-la. Mais que isso é preciso entender e analisar criticamente esse mundo extremamente visual em que vivemos, de estímulos constantes que acabamos absorvendo sem tempo para críticas. Segundo Ana “em nossa vida diária, estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos, ideias, conceitos, comportamentos, slogans políticos etc. Como resultado de nossa incapacidade de ler essas imagens, nós aprendemos por meio delas inconscientemente. A educação deveria prestar atenção ao discurso visual. Ensinar a gramática visual e sua sintaxe através da arte e tornar as crianças conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-las para compreender e avaliar todo tipo de imagem, conscientizando-as de que estão aprendendo com estas imagens”.
O processo de contextualizar uma obra de arte não precisa limitar-se às informações biográficas e históricas, no entanto, elas complementam o entendimento da imagem. O importante é aliar essa base teórica com o fazer artístico, com a experiência, com a prática, a vivência. Esse é o momento em que pode interagir com a obra, aplicando na prática os conceitos estéticos e poéticos abordados durante a leitura e contextualização.
Todo o processo do saber precisa do fazer e da poesia... da arte.  "A poesia, atualmente, talvez tenha mais a nos ensinar do que as ciências econômicas, as ciências humanas e a psicanálise reunidas". Felix Guattari
Estão todos com fome e não sabem do quê... Talvez seja de viver, de vivência, de fazer.

PARA O QUE FOMOS FEITOS?



PARA O QUE FOMOS FEITOS?
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Poema de Natal (Vinícius de Moraes)

Hoje ele faria 99 anos.
Apelidado de poetinha carinhosamente por Tom Jobim, Vinícius de Moraes produziu diversas obras passando pela música, pelo teatro, pela literatura e também pelo cinema. E para o que Vinícius foi feito? Nascido em 1913 foi diplomata e jornalista, foi compositor e poeta... E POETA...
Era, como costumava dizer, "um labirinto em busca de uma saída".
Assim é a poesia, um encontro com o lado escuro e um momento em que pode também estar suspenso na alegria, deleitar-se com o amor. Precisamos lidar com tantos lados em nós, tantas negações, tantos desenganos, escuridões... Não se pode chegar a eles de barco, mas apenas mergulhando fundo. A poesia é a linguagem feita de outras linguagens, é a linguagem necessária que traduz para nós o que as outras linguagens não conseguem. Também somos feitos de poesia e não podemos negá-la em nosso cotidiano. Precisamos dela, precisamos desse mergulho, desse descanso.
O formato da poesia descansa nossos olhos, cansados de tanta prosa, do formato retangular dos textos... A poesia brinca, ousa, se deixa ver em parte e depois se esconde para que exercitemos a busca por mais, por um outro olhar que não sempre o racional. Na poesia as palavras podem ser outras, posso dizer que pente é borboleta, que riso é bolha de sabão, que a tristeza é um sono oceânico em que dormitamos...
A poesia é um caminho em que podemos descontruir a palavra e o seu significado, repensar para que ela foi feita e brincar de alquimista, misturar, experimentar e entender, às vezes, apenas a sonoridade, o agradável... Ou se pode afiar a palavra e ferir, abrir, deixar à mostra... a poesia não bate de frente, ela tem seus caminhos... e o entendimento que temos dela nos pega de surpresa e para cada um ela é de um jeito.
E para quem escreve? Sempre usamos as palavras para coisas certas, definidas, padronizadas... Mas porque às vezes não sai em forma de fala ou de texto? Porque às vezes o que precisamos só sai em poesia?
Porque a poesia deixa nua a palavra. Agora ela pode servir para outras coisas com as quais são estávamos acostumados. A não-lógica da poesia nos obriga a aguçar novos sentidos, a olhar onde não olhamos, a entrar onde não queremos, a saber que nem tudo sabíamos... ela nos provoca, de mansinho, e nos tira do lugar...
A poesia é a eterna inovação da palavra.
“Algumas palavras me fizeram cócegas hoje cedo. À tarde viraram poesia...”

Para curtir mais sobre esse grande poeta, conheça suas músicas, neste link estão disponíveis mais de 300 de suas composições: http://letras.mus.br/vinicius-de-moraes/
Veja também o documentário completo “Vinícius de Moraes”, de 2005.

Games, jogos e gamification



O professor e historiador neerlandês Johan Huizinga, em seu livro, “Homo ludens: o jogo como elemento da cultura”, nos diz que no momento em que todos jogam e se divertem é possível analisar características lógicas e culturais como: todo jogo é livre e voluntário, não necessário como comer, respirar ou dormir, é uma escolha e precisa ser livre para ser interessante; quando jogamos experimentamos uma “brincadeira”, uma vida imaginária, paralela, e que envolve inteiramente os seus jogadores; todo jogo tem uma ordem e regras próprias, e sem elas não se pode jogar. As regras determinam o que se pode e o que não se pode fazer, para garantir a integridade e divertimento do jogo.
"O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da 'vida cotidiana'." (Huizinga)
Quando falamos em educação os jogos criam uma ponte entre o imaginário e o real, entre as regras e objetivos, entre o aprendizado e a diversão. Os autores Gildeon Sena e Juliana Moura , em seu artigo “Jogos eletrônicos e Educação: Novas formas de aprender” nos dizem que “as emoções do jogo geram necessidades de ordem afetiva e é a afetividade a mola dessas ações. Ela mobiliza o indivíduo em uma determinada direção como o objetivo de obter prazer. Os desafios proporcionados pelo jogo mobilizam o indivíduo na busca de soluções ou de formas de adaptação a situações problemáticas e, gradativamente, o conduz ao esforço voluntário. A atividade lúdica pode ser, portanto, um eficiente recurso didático do educador, interessado no desenvolvimento da inteligência de seus alunos, quando mobiliza sua ação intelectual”.
Assim como a forma de vender, de estudar, de se comunicar, entre outras coisas, sofreram alterações nos últimos anos, a partir do uso intensificado das TICs, também os jogos ganharam novos cenários, possibilidades de interação, quebrando barreiras geográficas e aumentando nossa rede de contatos. Os jogos atuais desafiam as crianças, jovens e adultos a administrar cidades, desvendar charadas, enigmas, passar fases, gerenciar dinheiro, uma vida, etc. A ciência vem utilizando os games para treinamento médico, simulações e até na reabilitação de pessoas que sofreram acidentes.
“Surpreendente!: a televisão e o videogame nos tornam mais inteligentes”, esse é o livro de Steven Johnson que nos aponta as principais características que envolvem o “jogar”: a narrativa que envolve o jogo até que ele termine, a vontade de passar a fase, de ir para a próxima cena; b)  a sondagem, a investigação, muitos jogos deixam o jogador à vontade para descobrir o que deve ser feito, testar, criar; c) a investigação telescópica, em que o jogador precisa lidar com vários objetivos (principal, secundários, imediatos) ao mesmo tempo e deve delegar o tempo dedicado a isso.
Hoje temos um novo termo que define o mundo dos games e sua utilização em diversos contextos, pensando em sua lógica: Gamification.
O estudo em Gamification, segundo o artista, escritor e ativista da web Hernani Dimantas, está baseado no entendimento de porque os games seduzem, e que trouxeram para a sociedade uma outra forma de aprender, a partir de uma uma logica do acerto e erro, no game errar é fazer de novo. O foco do estudo não está no jogo em si, como por exemplo, o foursquare que possuía uma lógica do jogo, mas não é um jogo. Ele te dá pontos, os badges, cada vez que você passa por um lugar e você pode ser o prefeito dos locais que você marca,  existe aí uma lógica que motiva a participação a partir de uma situação de gamification e em como usar os conceitos de motivação para engajar pessoas. Gamification é mais sobre psicologia de motivação do que sobre teoria de games.
O conteúdo é indiferente, pois o que importa é como se está pensando quando se joga, e não no jogo em si. Na escola estudamos muitas disciplinas e não utilizamos todas elas, mas a forma como aprendemos nos ensinar uma lógica que poderá ser aplicada em várias situações de nossa vida.
Steven Johnson nos provoca com o seu livro, dizendo que “Tudo o que é ruim é bom para você". Em um game as regras tornam-se evidentes através da exploração do mundo, das possibilidades, decifrando coisas e aprende-se jogando e não lendo ou decorando. E assim é a vida, não?

Cinco grandes tendências para as mídias sociais

A psicóloga social Dolors Reig aponta cinco grandes tendências para as mídias sociais em 2013: Gamificação, ambientes colaborativos para a gestão da aprendizagem, Marketing honesto, Big data e análise de dados. Vamos conhecer mais sobre esses elementos?
Gamificação – Trata do uso da lógica dos jogos aplicada a contextos lúdicos ou não, como por exemplo, em temas como saúde, marketing, negócios e educação. O professor indiano de Tecnologia Educacional, Sugata Mitra e o empresário Gabe Zichermann são duas das grandes referências nesse tema: o poder dos jogos em ajudar a envolver as pessoas e construir organizações mais fortes e comunidades.

Gabe Zichermann: Como fazer jogos as crianças mais inteligentes:

Reportagem sobre Gamificação feita para o Brasil Repórter:
Ambientes colaborativos para a gestão da aprendizagem - Ambientes corporativos desenvolvidos para a gestão do conhecimento a partir da colaboração e da relação intramuros entre organizações, pessoas e empresas. Trata-se mais de uma concepção filosófica de trabalho em que não parte, ou não precisa partir necessariamente de uma hierarquia entre os participantes. Objetivamente é uma estratégia que combina o espaço virtual (Internet) e a tecnologia de Sistemas de Gerenciamento da Aprendizagem online (SGA) ou Learning Management Systems ( LMS). O objetivo é proporcionar um espaço de construção coletiva do conhecimento, onde cada participante é autor e colaborador e pode usufruir o resultado do esforço de todos. Grandes nomes como Stephen Downes e George Siemens
Stephen Downes explica o que é Learning Management Systems ( LMS):


TEDxNYED - George Siemens:
Marketing honesto e instrutivo - Baseado na transparência e na especialização, no conhecimento, além da marca em questão. A organização precisa ser transparente e estar aberta ao diálogo: saber falar e ouvir, mantendo canais abertos e permanentes com o público.
Big data e análise de dados - Big data, análise de dados nos negócios, mas especialmente sobre a questão da participação política (TEP, Tecnologias de capacitação e participação).
Para acessar a legenda automática em português dos vídeos no youtube, coloque primeiro a legenda em inglês (transcrito) e depois clique em traduzir legenda (beta) e escolha o idioma português.

O que os adultos podem aprender com as crianças?


O poder de realizar coisas...simples e grandiosas.
Adora Svitak
Adora Svitak


Adora Svitak tem 12 anos, já publicou três livros e está preparando o próximo. Ela também é professora, ela tem muito a ensinar. Adora tem um site, é ativista na web, visita escolas e trabalha com meios de ensino à distância como conferência webcasting e vídeos. Em seu TED “O que os adultos podem aprender das crianças”, a jovem inicia nos provocando com uma pergunta: Qual foi a última vez que fomos chamados de “infantis” por alguém?
Adora fica chateada quando alguém usa a palavra infantil para ofender outra pessoa, como se fosse ruim ser criança, como se fossem iguais as palavras infantil, irresponsável, irracional e imaturo. E a jovem reforça seus pensamentos nos dando alguns exemplos de atitudes “infantis” de alguns adultos, como imperialismo e colonizações, guerras mundiais, George W. Bush (ex-presidente dos Estados Unidos)... Quem foram os responsáveis? A resposta tira risos da plateia: adultos.
Em contrapartida crianças notáveis tem realizado ações em prol do coletivo há muito tempo e não têm o destaque que merecem, como por exemplo, Anne Frank. “Adolescente alemã de origem judaica, vítima do holocausto, que morreu aos quinze anos de idade num campo de concentração. Ela se tornou mundialmente famosa com a publicação póstuma de seu diário, no qual escrevia as experiências do período em que sua família se escondeu da perseguição aos judeus dos Países Baixos”. (Wikipédia).
Anne Frank
Anne Frank

Ou Ruby Bridges, uma das primeiras crianças negras a frequentar uma escola só de brancos e que ajudou a acabar com a segregação racial nos Estados Unidos. Charlie Simpson ajudou a angariar 120.000 libras para a reconstrução do Haiti. No Brasil, Isadora Faber criou uma página no Facebook para denunciar os problemas em sua escola pública, e conseguiu, além dos mais de 300 mil apoiadores, melhorias reais para a sua escola e a abertura de um canal em que outras crianças e professores puderam também dizer o que pensavam e denunciar os problemas que enfrentavam em suas escolas, em várias cidades do país.

Ruby Bridges
Charlie Simpson
Charlie Simpson


Isadora Faber
Isadora Faber


Adora nos fala que algumas “irracionalidades” são importantes, afinal todos temos ideias e quando pensamos em realizá-las, travamos. Perdemos um tempão pensando em como ela será impossível, o quanto vai custar, se vale a pena ou não, etc etc etc. E enfim, nada é feito. Eis o porquê de tantas coisas não serem realizadas. As crianças possuem o dom de apenas pensar, sonhar e imaginar coisas, e não de limitarem suas ideias. Nós, adultos, perdemos essa capacidade aos poucos e é preciso encontrar ai um equilíbrio. Pois a criatividade e a nossa sobrevivência dependem disso, acreditem. Para criar algo é preciso sonhar primeiro.
“A audácia da imaginação ajuda a empurrar as fronteiras do possível”... O Museu do Vidro, em Washington (Estados Unidos), possui um programa chamado Kids Design Glass, em que crianças desenham suas ideias para arte em vidro. As melhores ideias dos artistas residentes vieram da imaginação de crianças que não pensaram em limitações, elas apenas pensam em boas ideias... e desafiaram os artistas a irem além do que estavam acostumados.
Obra do projeto Kids Design Glass
Obra do projeto Kids Design Glass


Obra do projeto Kids Design Glass
Obra do projeto Kids Design Glass


Segundo Adora o conhecimento inerente não precisa ser algo interior, as crianças aprendem muito com os adultos e querem, gostam de compartilhar, e os adultos deveriam aprender também com as crianças. Todos são professores... Todos, sem exceção, têm algo a ensinar...
A realidade muitas vezes é diferente porque falta a confiança, que geram restrições. Os adultos tendem em atitudes restritivas às crianças. Historicamente todo regime torna-se mais opressivos quando estão perdendo o controle. E embora Adora reconheça que os adultos (pais e professores) não podem ser comparados à regimes totalitários, mesmo assim subestimam a capacidade das crianças e pouco levam em consideração os seus desejos.
Assista a palestra completa e legendada, ela é ótima. Quando crescer queremos ser como Adora.

Porque compartilhamos?


Quantas vezes você já perguntou: Me ajuda? Me explica? Onde encontro? Por quê?
Pense nas pessoas que pacientemente responderam a você. Agora pense em todas as vezes que você respondeu a alguém. Essa troca é o aprendizado, a conversação, o compartilhamento do que sabemos, sentimos, sonhamos, entendemos, odiamos, etc.
Por que compartilhamos? Porque precisamos do olhar do outro para ver o que não vemos, precisamos do entendimento do outro que falta em nós, nascemos para viver juntos, nossa sobrevivência depende do conhecimento compartilhado, do auxílio mútuo, do coletivo.
Sempre sabemos algo que outros não sabem e vice-versa. Cada um entende de um jeito e pode mostrar sua visão ao outro, e construir pontes que nos permitam ir mais longe. Pais, amigos, irmãos, professores, somos todos guias e guiados, podemos mergulhar fundo e ajudar aquele que dá suas primeiras braçadas. Quando ensinamos aprendemos, reforçamos, refletimos e preparamos a base para passar à novas etapas.
Funcionamos em rede,  somos nós e pontos espalhados que se unem por meio de nossas necessidades, afetos e dessa forma compartilhamos de tudo... A rede cresce e o conhecimento se espalha. O conhecimento está lá e cada um pode acessá-lo quando quiser, quando estiver pronto e poderá também ignorá-lo se não lhe fizer sentido por hora. A qualquer momento podemos acionar um ponto da rede, uma pessoa, um site, um lugar, e trocar, interagir...
Abrir as janelas, olhar para as pessoas, conversar...  Cada tela é uma janela, cada sala de aula um ponto de encontro, cada conversa em roda uma oportunidade de troca.
E para isso é preciso imaginação e não ter medo de voar...mesmo que a primeira vista pareça impossível!

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NO BRASIL


O cenário educacional brasileiro, tanto na universidade quanto na educação básica, refletem decisões tomadas não na base de dados numéricos analisados em profundidade, mas, sim, em bases condicionadas por critérios estabelecidos e endurecidos por uma instituição governamental tradicional.
A sociedade agora foi estimulada a prosseguir com seus estudos, a tomar iniciativas para facilitar seu trabalho, sua vida, e não depende mais somente da certificação acadêmica. O processo tornou-se mais importante que o fim. Não somos números nem diplomas, mas sim somos o que podemos fazer. Somos tudo o que pudermos aprender.
O atual presidente da ABED, Prof. Dr. Fredric Michael Litto, trouxe à cena questionamentos sobre a capacidade de acompanhamento que o nosso país demonstra, em relação às mudanças disruptivas em toda a sociedade atual: Será o nosso país está acompanhando os demais países nessas mudanças promissoras? Quem são aqueles que não estão se beneficiando com elas? Qual é o papel da EAD com relação aos REAs (Recursos Educacionais de Aprendizagem)? Quem são os principais contribuintes de REA no país? Como estimular uma participação maior de governos, instituições de ensino, centros de pesquisa, editoras de livros e revistas, além de outros setores da sociedade em geral?
Esses foram os temas do 18º Congresso Internacional da ABED em 2012.
Mas não iremos falar do Congresso, iremos tentar tratar aqui da formação dos professores, e em como esse processo tem se adaptado ou não às novas demandas de uma sociedade de tecnologias e conhecimentos abertos.
Cada período histórico em nosso país apresentou uma realidade educacional diferente, influenciadas pelo estado, pela sociedade e pelos modos de produção, as quais determinaram as ações no processo de formação de professores.
No Brasil atual as ações nesse segmento fundamentam-se na orientação dos organismos internacionais que financiam nossa educação, como a UNESCO que também determinou orientações para o desenvolvimento dos sistemas educacionais mundiais, em termos de saberes e competências indispensáveis para o desenvolvimento pessoal e social no século XXI, o que prevê a inclusão das novas Tecnologias de Informação e Comunicação TICs).
No livro "A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa”, o autor Nicolau Sevcenko usa a imagem dinâmica de uma montanha russa para avaliar a transição do século XX para o XXI. Nesse momento em que vivemos estamos no clímax, o carrinho está descendo a todo o vapor e é aqui o ponto em que relaxamos diante da física, da fluidez, da aceleração, não há o se fazer, todos se resignam. Esse período refere-se ao surto de transformações tecnológicas: a revolução da microeletrônica.
O autor define essa fase como o momento em que “a aceleração das inovações tecnológicas se dá agora numa escala multiplicativa, uma autêntica reação em cadeia, de modo que em curtos intervalos de tempo o conjunto do aparato tecnológico vigente passa por saltos qualitativos em que a ampliação, a condensação e a miniaturização de seus potenciais reconfiguram completamente o universo das possibilidades e expectativas, tornando-o cada vez mais imprevisível, irresistível e incompreensível. A técnica deve ser posta a serviços de valores humanos, beneficiando o maior número de pessoas”. E o autor nos alerta, esses benefícios devem se estender às gerações futuras.
A corrida tecnológica que sucedeu à Guerra Fria privilegiou aqueles que puderam garantir soberania a partir de autonomia tecnológica, logo, educação, ciência e tecnologia foram as três chaves da nova era.
“A ideia não era mais garantir um bom emprego para todos, conforme a tradição socialista, mas disseminar o espírito da concorrência agressiva por intermédio de uma nova agenda educacional...”, conclui Sevcenko. Aqueles que não seguirem essa regra serão vistos como vítimas de sua própria incapacidade e inadaptabilidade. Em suma, nosso sistema educacional mundial nos prepara para a guerra, uma guerra diária e veloz.
O sociólogo espanhol Manuel Castells define esse momento em que vivemos como uma sociedade em rede, a partir da introdução de novas tecnologias, como sendo caracterizada “por uma cultura de virtualidade real construída a partir de um sistema de mídia onipresente, interligado e altamente diversificado. [...] Essa nova forma de organização social, dentro de sua globalidade que penetra em todos os níveis da sociedade, está sendo difundida em todo o mundo”.
E como os educadores brasileiros e os sistemas educacionais se adaptaram diante disso tudo? Atualmente a crise na educação tem sido tratada apenas nos sintomas, e grande parte da culpa foi atribuída ao professor. Um professor é formado por outros professores que também foram formados por professores, todos oriundos de um mesmo sistema cíclico e vicioso que cobra o que não ensinou, que cobra um ambiente que não proporcionou e um senso de criatividade e liberdade que não foi incentivado. Todo professor foi criança.
A inclusão das novas TICs tem sido avaliada sem profundidade pelas ações governamentais que se apegaram à máquina e esqueceram aquilo que está vivo e pode apropriar-se das tecnologias, redes e da imaginação. Mais do que tecnologia é preciso repensar que modificações comportamentais elas proporcionaram às pessoas. Redes... autonomia, compartilhamento, produção e consumo, prosumers... Não dependemos da televisão para nos atualizar, nem do jornal preferido deixado a nossa porta pela manhã, podemos mergulhar na rede e organizar as informações que queremos, direcioná-las para nossos e-mails, podemos produzir, consumir, publicar, não precisamos pedir permissão, não precisamos ler manuais, basta encontrar grupos que possam nos ensinar, debater e compartilhar dúvidas e experiências.
Em sua tese sobre a integração de mídias em ambiente digital na construção de cursos a distância para pedagogia, a pesquisadora, Profª e Drª Clausia Mara Antoneli, destaca os seguintes dados de acordo com o Educacenso 2007: cerca de 600 mil professores em exercício na educação básica pública não possuem graduação ou atuam em áreas diferentes das licenciaturas em que se formaram. Os cursos serão oferecidos tanto na modalidade presencial como a distância, pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), e alguns já devem começar no segundo semestre de 2009. Outros têm início previsto para 2010 e 2011.
A informação é de 3 anos atrás, e o que efetivamente mudou? Entre iniciativas precipitadas como a distribuição de tablets para alunos e professores, o que de fato se transformou?
Nesse infográfico podemos ver o investimento do Governo Federal na educação básica.
“Tecnologia é mato...” (Hernani Dimantas) O humano, o comportamento, as necessidades, o complexo e o profundo... Será que o professor está recebendo uma formação diferenciada para o novo mundo?
O Programa Universidade Virtual do Estado de São Paulo - Univesp -, criado em 2008, tem como principal objetivo a expansão do ensino superior público, gratuito e de qualidade em todo o estado de São Paulo, através da ampliação do número de vagas e de sua abrangência geográfica.
“Trata-se de otimizar a utilização dos recursos humanos e materiais disponíveis nas universidades públicas paulistas e nas instituições parceiras, juntando-se recursos metodológicos e tecnológicos que possibilitem oferecer ensino superior público gratuito de alta qualidade para o maior número possível de estudantes do Estado”. (Site Univesp)
Para isso o programa conta com uma TV digital e aberta, cursos semi ou presenciais, encontros semanais obrigatórios, atividades em ambientes virtuais de aprendizagem, uma revista digital e um livreto. Os cursos oferecidos objetivam ampliar o número de vagas no ensino superior público de qualidade no Estado de São Paulo e, mais especificamente,capacitar professores que já atuam na educação básica. Para acessar os cursos e participar do programa os participantes primeiro precisam passar na avaliação...
Os alunos têm acesso aos conteúdos de cada curso, às ferramentas de interatividade e a um conjunto de atividades que devem cumprir em cada uma das fases do curso, as quais serão avaliadas por um tutor, que deve analisar e orientar o aluno na sequência das atividades curriculares. O cumprimento dessas atividades equivale à “presença do aluno em sala de aula no modelo de educação presencial. Mas sua presença física será exigida sempre que a programação dos cursos incluir atividades presenciais nos polos, como em aulas de laboratório ou nas avaliações (provas)”. Existe o contato online e permanente entre os tutores dos cursos e alunos ou grupos de estudo e fóruns de discussão que ocorrem em horários pré-determinados.
O que significa capacitar um professor?
ca.pa.ci.tar
(lat capacitate+ar2vtd 1 Tornar capaz. vpr 2 Ficar convencido, persuadir-se. vtd 3 Fazer acreditar, persuadir. (Dicionário Michaelis)
Precisamos torna-los capazes? Convencê-los, fazê-los acreditar? Professores que já foram alunos...
O processo para que as mudanças internas aconteçam é lento, é mais fácil aprender a estar preso do que lidar com a liberdade. Ainda mais se essa liberdade estiver mascarada em alguns aspetos. O investimento em tecnologia é importante, mas o entendimento da fluidez das redes é mais ainda. Pois o ensinar em rede existe mesmo quando não se tem a internet... O compartilhar é um elemento que se potencializa com o uso da internet, mas o processo generoso de trabalhar em coletivo é algo que não foi entendido completamente e não é a tecnologia que traz o entendimento, mas as necessidades humanas, a reflexão sobre o que estamos aprendendo e para quê?
Será que estamos apenas transferindo o ensino presencial para plataformas e mantendo o mesmo formato humano de controle, avaliação por terceiros, consumo e nada de produção coletiva?

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