O futuro a nós pertence II

As narrativas que dominam o ensino superior

Uma delas sugere que as universidades são obsoletas. Já em 1997, Peter Drucker argumentava: "Daqui trinta anos, a partir de agora, os grandes campus universitários serão considerados relíquias. As universidades não vão sobreviver. É tão grande a mudança, como quando surgiu o primeiro livro impresso. Você percebe que o custo do ensino superior cresceu tão rápido quanto o custo dos cuidados de saúde? E para a família de classe média, a educação universitária de seus filhos é tanto uma necessidade como assistência médica, pois sem ela as crianças não terão um futuro? Tais gastos totalmente incontroláveis, sem qualquer sinal visível de melhoria no conteúdo ou na qualidade da educação, significa que o sistema está rapidamente se tornando insustentável. O ensino superior está em crise profunda".

No entanto o número de matrículas em cursos superiores têm crescido exponencialmente:

Gráfico retirado do artigo "The future of higher education and other imponderables"

Investir na Educação Superior ainda é o melhor investimento. O que se percebe é que o maior custo com a educação provém dos alunos, muitos países (EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália) dependem fortemente do investimento do setor privado ao invés de financiamento público da educação.

Para os autores, a tecnologia é uma importante impulsionadora da mudança na educação. A adoção da internet e das tecnologias móveis crescem em ritmo frenético. Para muitas universidades, a computação em nuvem está se tornando uma opção atraente devido ao baixo custo e a praticidade logística.

Vamos retomar as cinco funcionalidades da educação, em que os autores nos demonstram como elas foram afetadas por tantas mudanças. 

Conteúdo e Curriculum

Os três pontos-chave das universidades, currículo, ensino e avaliação, estão enfrentando uma forte pressão para mudar a partir do conceito de Educação Aberta iniciada na década de 1960 e 70.

"Em 2002, o MIT anunciou a iniciativa Open Course Ware. Este foi um desenvolvimento embrionário que levantou muitas questões sobre o valor econômico da educação. Como o conteúdo pode ser copiado facilmente, com baixos custos ou não, não parece razoável para competir com base no currículo superior. Desde 2002, outras universidades e colégios anunciaram iniciativas de educação aberta e a abertura tornou-se uma área significativa de pesquisa. Rory McGreal da Athabasca University, por exemplo, mantém a Cátedra UNESCO/COL com recursos educativos abertos".

A iniciativa Creative Commons para o licenciamento de conteúdo tem sido fundamental no  movimento de educação aberta. 

Ensino e Aprendizagem

O gráfico abaixo, retirado do relatório deste GSVAdvisor mostra o crescimento significativo de aprendizagem online:

Apesar de ainda existir forte discussão sobre o aprendizado online e sobre os seus custos, a verdade é que o e-learning é um aspecto relevante e crescente no cenário do ensino superior. Os autores brincam dizendo que as salas de aula não podem mais servirem como cápsulas do tempo da década de 1970, as pessoas utilizam a tecnologia amplamente e cada vez mais. MOOC, acrônimo que significa Massive Open Online Course (Curso Massivo Aberto Online) é um fenômeno que está revolucionando o cenário da educação. Os autores nos contam que a experiência MOOC surgiu quando o professor Sebastian Thrun decidiu pegar o curso de inteligência artificial, um dos mais prestigiosos da universidade, e ensiná-lo integralmente online por meio de vídeo-aulas. Depois disso  abriu o curso para que qualquer pessoa, no mundo inteiro, pudesse participar sem pagar nada. O resultado foi que 160 mil pessoas fizeram o curso e 23 mil receberam o certificado final e o material foi traduzido por voluntários para 40 idiomas. Foi um sucesso.

O cenário educacional precisa acompanhar e observar as mudanças de comportamento e as novas demandas. Professores e alunos alteraram suas funções e isso otimiza processo de aprendizagem a partir do uso de novas ferramentas. Nos cursos abertos o educador é um nó em uma rede mais ampla que inclui os alunos, os pares, outras faculdades e instituições como museus, bibliotecas, órgãos governamentais entre tantos, e uma variedade infinita de fontes de conteúdo e informações.

Retirado do artigo "O futuro do ensino superior e outros imponderáveis"

Credibilidade e avaliação

A avaliação do conteúdo e do aprendizado na educação aberta ainda está sendo discutida, principalmente porque a credibilidade de uma universidade sempre foi um ponto muito forte. Isso foi colocado em dúvida quando o cursos abertos surgiram, pois o sucesso da aprendizagem dependerá muito mais do envolvimento do aluno e de sua disciplina. Como avaliar isso? Como garantir a qualidade e manter o bom nome da universidade?

Pesquisa e Divulgação

A expectativa mundial sobre o processo de pesquisa é de que a atividade deve se traduzir em resultados inovadores e comerciais. No Canadá, por exemplo, o orçamento 2012 torna isso uma prioridade explícita:

"O Governo compromete-se a uma nova abordagem para apoio à inovação que concentra os recursos sobre as necessidades do setor privado ... A economia global está mudando. Concursos para as mentes mais brilhantes estão se intensificando. O ritmo da mudança tecnológica está criando novas oportunidades, enquanto tornam as antigas práticas de negócios obsoletas. (...) O Governo apoia uma economia inovadora e a criação de empregos de alta qualidade através de investimentos em educação e formação, investigação básica e aplicada, e a tradução do conhecimento da pesquisa pública para o setor privado".

Quer um exemplo? Os autores citam o Projeto Polymath, uma atividade colaborativa onde matemáticos do mundo todo trabalham em conjunto para resolver problemas complexos. Isso nos mostra mais uma vez que a informação hoje não deve ser guardada a sete chaves, mas sim compartilhada. Afinal estamos em uma economia do conhecimento.

Administração e Liderança

 A liderança em um mundo distribuído é diferente do que foi no passado, e essa figura tradicional está sendo repensada com esforço e precisa de tempo para adaptação. E isso tem se refletido nos grandes movimentos sociais, os usuários conectados tornaram-se um desafio importante para os sistemas hierárquicos de poder. Algumas universidades criaram laboratórios para explorar a mudança institucional, como por exemplo, a Georgia Tech C21U, a Universidade de Wisconsin-Madison.

Integração

A estrutura integrada da universidade - conteúdo, ensino, pesquisa, avaliação - criou um sistema que não podia ser contestado, mas agora o que está acontecendo é que os elementos foram fragmentados e podem ser integrados novamente sob outras lentes e quem melhor fizer isso sairá ganhando.

Lutar contra as mudanças é bobagem, todo sistema tende a se atualizar e passa por mudanças. Nada é para sempre e mudanças positivas são sempre bem-vindas. O que precisamos é nos dar o trabalho de pesquisar como essas mudanças estão acontecendo e como podemos aproveitá-las da melhor forma, livres de preconceitos e nostalgias.